
A primeira conferência do segundo dia do III Congresso Cabo-verdiano de Educação Inclusiva (III ConCEI), 4 de dezembro, no Centro de Convenções, centrou-se na inclusão no ensino superior e na transição para a vida profissional. A sessão foi proferida pela Professora Doutora Sílvia Monteiro, da Universidade do Minho, sob o tema “Inclusão no ensino superior e o seu papel nos recursos de carreira”.
A partir de dados recentes da UNESCO e de organizações internacionais, a conferencista mostrou que as pessoas com deficiência continuam a apresentar níveis mais baixos de literacia, menor acesso ao ensino superior e taxas de emprego significativamente inferiores às da população geral, mesmo quando concluem graus académicos. Sublinhou que este cenário se verifica em países desenvolvidos e tende a ser ainda mais acentuado em contextos em desenvolvimento.
Sílvia Monteiro destacou o “paradoxo” entre a massificação do ensino superior e a persistência de barreiras ao sucesso académico e profissional. Criticou a ideia de que a empregabilidade depende apenas do esforço individual do estudante e recordou que tanto a deficiência como a empregabilidade resultam da interação entre características pessoais, políticas públicas, práticas institucionais e condições socioeconómicas.
Com base em entrevistas realizadas a estudantes com necessidades educativas específicas no ensino superior, identificou barreiras institucionais (dilema de revelar ou não a condição, fragilidades nos apoios formais), pedagógicas (materiais e avaliação pouco flexíveis) e pessoais/de carreira (dificuldades na construção de redes e no acesso a experiências profissionais relevantes).
Entre as respostas possíveis, apontou como boas práticas a integração de estágios e experiências em contexto de trabalho nos currículos, programas de mentoria (idealmente incluindo profissionais com deficiência), a articulação entre serviços de apoio à deficiência e gabinetes de carreira e uma maior coordenação com entidades empregadoras. Defendeu, ainda, políticas públicas que combinem incentivos, adaptações no local de trabalho e metas de contratação.
A conferencista concluiu sublinhando que a empregabilidade de estudantes com deficiência deve ser lida como um indicador da qualidade das instituições e do grau de compromisso das sociedades com uma inclusão efetiva, e não como responsabilidade exclusiva dos indivíduos.