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Pablo Alves, estudante de Educação Física e Desporto da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), é um dos cofundadores do projeto Torneio Tubaron, a startup que conquistou o 1.º lugar na 6.ª edição da Bolsa Cabo Verde Digital (BCVD), cuja final decorreu no Demo Day de 4 de dezembro, no Parque Tecnológico, na Cidade da Praia.

A iniciativa, promovida pelo Governo através do Ministério da Economia Digital, Pro-Empresa e programa Cabo Verde Digital, distinguiu o Torneio Tubaron entre os dez finalistas de um universo de 85 projetos e 170 jovens, reforçando o papel dos e-sports na emergência de novas oportunidades na economia digital cabo-verdiana.

“Uma boa surpresa” e um sinal de mudança de mentalidades

Pablo Alves admite que a vitória não era esperada. O estudante revela que, inicialmente, nem pretendia avançar com a candidatura, por estar em preparação para competir em Las Vegas, o que tornaria difícil conciliar responsabilidades.

“Foi uma boa surpresa. Não estávamos à espera. Eu, sinceramente, nem queria muito participar, porque estava a preparar-me para competir em Las Vegas e seria mais uma responsabilidade que tinha receio de não conseguir cumprir. Mas os meus dois parceiros queriam, ficou dois contra um, entrámos, fomos passando de fase até chegar ao top 10 - e isso já foi uma surpresa”, relata.

Para o jovem empreendedor, o prémio tem um significado que ultrapassa a dimensão pessoal e toca na forma como os videojogos são percecionados em Cabo Verde.

“Em Cabo Verde ainda existe um certo estigma em relação aos videojogos, vistos só como entretenimento. Ao ganharmos a Bolsa Cabo Verde Digital, sentimos que é uma prova de que está a haver uma mudança de mentalidade. O projeto quer dar um ‘boom’ na economia digital através dos e-sports, os desportos eletrónicos”, sublinha.

O Torneio Tubaron é uma startup focada na organização de eventos de videojogos e na criação de um ecossistema de e-sports em Cabo Verde, envolvendo consolas, computadores e dispositivos móveis.

Na prática, o projeto estrutura-se em três eixos principais: organização de torneios presenciais e online; produção de conteúdos em vídeo e live streaming em plataformas como YouTube e Twitch; e o apoio à criação de uma presença digital consistente por parte de jogadores e equipas, com vista à monetização do conteúdo.

“Quando tens uma consola, um computador ou até um telemóvel e jogas algo que gostas, podes competir em eventos, gravar, editar, fazer transmissões em direto e publicar online. A partir daí começas a construir uma presença digital e a criar oportunidades de rendimento. É economia digital aplicada aos videojogos e abre novas opções de trabalho e mercado”, explica Pablo Alves.

Três meses intensos de formação e o desafio de gerir o tempo

Se o processo de candidatura à bolsa foi relativamente simples, o estudante reconhece que a verdadeira exigência surgiu depois de o projeto ser selecionado para o grupo das 25 startups apoiadas ao longo de três meses de pré-incubação.

“O mais desafiante foi já dentro da Bolsa. Foram três meses de formação muito intensos, muita informação em pouco tempo. Tivemos de conciliar vida pessoal, trabalho e o programa. Houve ainda o problema das falhas de eletricidade, que complicou a participação em algumas sessões. A gestão de tempo foi o maior desafio, mas conseguimos organizar-nos e chegar à final.”

Embora esteja a concluir o curso de Educação Física e Desporto, Pablo Alves sublinha que a ligação aos videojogos vem da infância e nunca deixou de caminhar em paralelo com a prática desportiva tradicional.

“Desde pequeno sempre fui muito competitivo. Comecei a jogar quando tive um Nintendo 64, numa fase em que estava de convalescença em casa. Ao mesmo tempo jogava futebol na rua, futsal, atletismo, e hoje dou aulas de dança hip hop. A atividade física está sempre presente, mas os videojogos são a grande paixão”, afirma.

“Quero continuar ligado à Educação Física e, ao mesmo tempo, desenvolver o projeto de videojogos. Já organizo torneios na Cidade da Praia desde os 13 anos, e depois de uma experiência de mobilidade em Portugal apareceu a oportunidade de profissionalizar essa atividade em Cabo Verde. A ideia é não largar nem um nem outro.”

Da mobilidade em Portugal à consolidação do projeto na Uni-CV

O percurso do Torneio Tubaron cruza-se com a trajetória académica internacional de Pablo. O estudante iniciou estudos em Educação Física em Portugal, na ISMAI, e, através de um programa de mobilidade, veio para a Uni-CV. Foi durante esse período que conheceu um dos atuais sócios, Adel Paim, e começou a estruturar o projeto de forma mais consistente.

“Já fazia torneios antes, mas foi durante a mobilidade que começámos a pensar o projeto como negócio. Ao voltar para Cabo Verde, percebemos que não existia um ‘blueprint’ para e-sports no país. Tivemos de criar tudo do zero: falar com empresas, procurar patrocinadores, preparar apresentações, organizar eventos-piloto, fazer workshops em universidades, incluindo a Uni-CV e a Universidade de Santiago”, recorda.

A experiência internacional como jogador também pesa na visão que tem para o futuro da área.

“Já participei em torneios internacionais online e fui o primeiro cabo-verdiano a competir em Las Vegas num grande torneio. Tudo isto serve para motivar e sensibilizar: se eu consegui, outros também podem conseguir.”

Competências académicas ao serviço do empreendedorismo

Questionado sobre o contributo da formação na Uni-CV para alcançar o prémio, Pablo destaca sobretudo as competências de autonomia, comunicação e síntese.

“Fazer um pitch em três minutos não é fácil. As apresentações, a capacidade de sermos objetivos e a autonomia são competências muito trabalhadas na universidade. Aprendemos a gerir o nosso próprio estudo, a organizar informação, a planear atividades - tudo isso foi crucial para preparar o pitch, os materiais e as abordagens a potenciais parceiros”, sublinha.

Para os jovens que ainda olham para os videojogos com receio ou insegurança em relação ao futuro profissional, o estudante deixa uma mensagem direta:

“Não se preocupem tanto com o que os outros pensam. Muita gente julga porque não conhece este mundo. O mesmo aconteceu com o futebol: houve uma altura em que quase ninguém levava a sério, hoje toda a gente incentiva porque vê que pode dar um futuro. Com os videojogos pode acontecer algo semelhante. Quando perceberem que também gera rendimento, muitas críticas vão desaparecer.”

Quanto ao futuro do Torneio Tubaron, Pablo Alves projeta um crescimento progressivo, com impacto no território nacional e na formação de novos talentos.

“Daqui a dois ou três anos imagino pelo menos um campeonato anual que motive as pessoas a treinarem, a melhorarem as suas competências e a levarem isto como trabalho. Queremos ter mais torneios ao longo do ano e chegar a mais ilhas.”

A expansão já começou. Depois de iniciativas realizadas na Cidade da Praia e na ilha do Sal, a equipa prepara-se para novas ações em São Vicente, combinando torneios de fim de semana com workshops e sessões de sensibilização em liceus e universidades.

“Mesmo prémios que não sejam valores muito altos podem fazer diferença, principalmente em épocas como o Natal. O objetivo é mostrar que, com uma boa presença online e participação em torneios, é possível gerar rendimento adicional e abrir portas num setor novo da economia digital cabo-verdiana”, conclui.

Com a vitória na 6.ª edição da Bolsa Cabo Verde Digital, o Torneio Tubaron e o percurso de Pablo Alves reforçam a ligação entre a formação académica na Uni-CV, a inovação tecnológica e a criação de novas oportunidades para a juventude cabo-verdiana.

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