
O impacto do exercício físico na saúde mental e na qualidade de vida de pessoas com doença mental grave esteve em foco no III Congresso Cabo-verdiano de Educação Inclusiva, realizado a 4 e 5 de dezembro de 2025, no Campus do Palmarejo Grande, na Universidade de Cabo Verde. A conferência foi proferida pela Professora Tânia Cristina Lima Bastos, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, especialista em Atividade Física Adaptada.
Na comunicação intitulada “O exercício físico como promotor da inclusão e saúde na população com doença mental grave”, a conferencista apresentou evidência científica que demonstra que programas estruturados de exercício físico podem reduzir sintomas, combater o sedentarismo e melhorar o bem-estar global desta população, tradicionalmente mais vulnerável a doenças cardiovasculares, obesidade e isolamento social.
Tânia Bastos descreveu um programa comunitário desenvolvido em articulação com equipas de psiquiatria, psicologia, enfermagem e terapia ocupacional, baseado em sessões de grupo, em pequenos grupos, com atividades físicas adaptadas, definição de objetivos e estratégias de motivação contínua. Sublinhou que o “objetivo final” é a melhoria da qualidade de vida, através da criação de rotinas saudáveis, de um sentimento de pertença e de maior autonomia dos participantes.
Um dos desafios destacados foi a adesão e a manutenção da prática ao longo do tempo, devido a fatores clínicos, barreiras logísticas e baixa autoeficácia. Para contrariar este cenário, a equipa recorre ao acompanhamento próximo, contactos regulares quando há faltas sucessivas e à valorização de ganhos “sessão a sessão”, transformando a motivação externa (“venho porque o médico mandou”) numa motivação mais autónoma e duradoura.
A conferência terminou com um apelo à integração do exercício físico nos planos e serviços de saúde mental, também em Cabo Verde, como estratégia acessível e baseada em evidência para reforçar a inclusão, a dignidade e a qualidade de vida de pessoas com doença mental grave.