Intervenções de Deriques Monteiro, Cláudia Inocêncio e Francisca Freire sublinham participação estudantil, memória institucional, bem-estar organizacional e trabalho em equipa como chaves para o futuro da universidade pública.

A Sessão Solene do 19.º Aniversário da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), realizada esta sexta-feira, 21 de novembro, no Centro de Convenções do Campus do Palmarejo Grande, foi marcada por intervenções fortes das três grandes componentes da comunidade académica: estudantes, funcionários e docentes. Em diferentes tons, mas em clara sintonia, os representantes de cada grupo reforçaram o compromisso com a universidade pública e com o seu papel no desenvolvimento do país.
Em nome dos estudantes, Deriques Monteiro descreveu a Uni-CV como “uma das maiores provas de que o sonho cabo-verdiano é resiliente, determinado e transformador”, apelando a uma participação mais ativa na vida académica. “Estudantes, valorizemos aquilo que temos”, disse, lembrando que as infraestruturas da universidade são “um património nacional construído com sacrifício e visão” e que cuidar delas é “um ato de cidadania académica”. Reforçou ainda a necessidade de maior apoio financeiro institucional à Associação de Estudantes, de reforço das mobilidades com países africanos, em particular no espaço CEDEAO, e de maior atenção aos estudantes do Centro de Recursos Integrados para a região Fogo e Brava, que “devem beneficiar das mesmas oportunidades e condições” que os restantes colegas.
A Representante dos Funcionários, Dra. Cláudia Inocêncio, a partir do Polo II, Mindelo, fez uma leitura em perspetiva histórica, lembrando o percurso que vai dos institutos que estiveram na base da Uni-CV até à complexidade atual do campus e dos serviços. Evocou os primeiros anos de “grande energia”, marcados pela polivalência do pessoal não docente, e sublinhou o papel dos serviços de ação social na promoção do voluntariado e no apoio a estudantes em situação de vulnerabilidade. Destacou, igualmente, a importância da formação interna, da definição de carreiras e da introdução de sistemas de informação que vieram “revolucionar a gestão de processos e da vida académica”. “Cada sala de aula, cada laboratório, cada projeto de extensão representa o compromisso da universidade com a excelência e com a responsabilidade de formar cidadãos críticos, éticos e comprometidos com o futuro”, afirmou.
Na sua intervenção, a Professora Francisca Freire Monteiro trouxe a perspetiva dos docentes, ancorada na psicologia e na cultura organizacional. Definiu a voz dos professores como “uma voz de responsabilidade, de compromisso e de respeito pelo percurso” da Uni-CV e alertou para os riscos do individualismo: “Quando trabalhamos de forma isolada, quando buscamos apenas protagonismo individual, perdemos força, fragilizamos a instituição.” Defendeu uma universidade assente em cooperação, responsabilidade partilhada e diálogo entre áreas, lembrando que o progresso é “interdisciplinar e sistémico” e que o trabalho académico só se consolida num ambiente de confiança, previsibilidade e bem-estar.
Recorrendo a conceitos da psicologia, Francisca Freire Monteiro sublinhou que o bem-estar não é um luxo, mas “um instrumento de trabalho” que influencia diretamente o rendimento académico e a produtividade institucional. “Pessoas querem sentir que são úteis, que são reconhecidas”, afirmou, defendendo uma cultura universitária saudável, inclusiva e baseada em mais diálogo, mais colaboração e mais apoio mútuo. “A Universidade não pede que sejamos perfeitos individuais. Ela precisa que sejamos um coletivo, uma trança de diversidades”, concluiu, lembrando que cada estudante deve ser visto como “razão maior” do trabalho de todos.
Em conjunto, as três intervenções traçaram um retrato da Uni-CV aos 19 anos como espaço de memória, serviço público e transformação, mas também como projeto em construção, que depende do empenho de estudantes, funcionários e docentes para continuar a crescer “mais sólido, mais sustentável e mais justo”, nas palavras da representante dos docentes.