Evento reúne academia, decisores e sociedade civil para discutir respostas africanas às vulnerabilidades globais, no Campus de Palmarejo Grande.

A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) deu início, a 24 de setembro de 2025, no Centro de Convenções do Campus de Palmarejo Grande, a 6.ª Conferência Bienal da African Studies Association of Africa (ASAA). Com programação até 27 de setembro, o encontro convoca participantes de África e da diáspora para debater “Respostas Africanas às vulnerabilidades globais: construindo esperança para o futuro”, com sessões em português, inglês e francês.
Promovida pela ASAA em parceria com a Uni-CV, a conferência decorre em Cabo Verde no ano em que o país assinala o 50.º aniversário da independência e o centenário de Amílcar Cabral, sublinhando o significado histórico e académico do evento. O programa inclui oficinas pré-conferência (22–23 de setembro) e, entre 24 e 27, plenárias, painéis temáticos, comunicações científicas, mesas-redondas, oficinas e mostras culturais. Estão previstas intervenções de oradores de referência, entre os quais Carlos Lopes e Cristina Duarte, bem como a apresentação do Programa Pan-Africano de Bolsas (2025–2027) e o lançamento da Bokutani – Journal of the African Studies Association of Africa, reforçando a difusão científica no campo dos Estudos Africanos.
Na sessão solene de abertura, com a presença do Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, do reitor da Uni-CV, José Arlindo Barreto, e do presidente do Comité Executivo da ASAA, Toussaint Kafarhire Murhula, foi reafirmado o propósito de interligar conhecimento, políticas públicas e cidadania. No seu acolhimento, Fernandina Fernandes, presidente da comissão organizadora local e Presidente da Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes, sublinhou “o compromisso partilhado […] com a produção de conhecimento e o avanço de estudos sobre a África”, apelando à “consolidação de redes colaborativas” entre instituições e investigadores.
Na intervenção seguinte, Toussaint Kafarhire Murhula agradeceu a colaboração institucional e convocou uma memória crítica do campo: recordou mestres recentemente desaparecidos e, num gesto simbólico, pediu um minuto de reconhecimento. Dirigindo-se à comunidade académica, afirmou: “Pertencemos a uma geração de anões sobre os ombros de gigantes”, e desafiou os participantes a “trabalhar diligentemente para tornar realidade o continente sonhado pelos nossos antepassados”.
No seu discurso, o reitor José Arlindo Barreto propôs um duplo movimento - “de crítica e de criação” - ao analisar as vulnerabilidades globais (clima, crises sanitárias, desigualdades, conflitos). “A África não é apenas espaço de carências”, disse, “é território de respostas, imaginação, inovação social e política e resistência cultural.” Recuperando debates recentes realizados na Uni-CV, defendeu a centralidade de África “não como objeto de estudo, mas como produtora de pensamento, como sujeito epistémico”.
Por sua vez, o Presidente da República, José Maria Neves, enquadrou a conferência no calendário cívico cabo-verdiano e no legado de Amílcar Cabral, defendendo que “mais do que identificar problemas, importa projetar soluções e construir narrativas de esperança”. Sublinhou ainda a necessidade de “políticas inovadoras de adaptação e mitigação” perante as alterações climáticas, e valorizou o papel da diáspora como ponte para o desenvolvimento, do conhecimento à economia azul e verde.
Ao acolher a ASAA 2025, a Uni-CV reforça o seu papel de plataforma regional de encontro entre investigação, ensino e formulação de políticas, expondo estudantes e docentes a uma rede transnacional de investigadores e decisores. Para Cabo Verde, país insular com desafios ambientais e económicos específicos, o diálogo interdisciplinar promovido pela conferência fornece base empírica e conceptual para estratégias de resiliência, cooperação académica e inovação social, com potencial tradução em programas de bolsas, projetos conjuntos e circulação de saberes.
Até 27 de setembro, decorrem plenárias, painéis e atividades culturais no Campus de Palmarejo Grande, com intervenções de oradores internacionais e sessões em três línguas (português, inglês e francês). O lançamento da Bokutani e o Programa Pan-Africano de Bolsas (2025–2027) integram a agenda científica, incentivando candidaturas e submissões de trabalhos por parte da comunidade académica. Informações detalhadas sobre horários, oradores e sessões encontram-se no programa oficial do evento.