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A Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes da Uni-CV promoveu, hoje, 4 de novembro de 2025, no Auditório 101 (Edifício 8, Campus do Palmarejo Grande), a conferência “Perspetivas comparativas entre Cabo Verde e São Tomé e Príncipe: que significado e valia?”, proferida por Augusto Nascimento, docente e investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal.

Organizada pela Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes (FCSHA) da Universidade de Cabo Verde, a conferência reuniu comunidade académica interessado para discutir, com base histórica e comparada, as trajetórias políticas, económicas e institucionais de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe desde o período colonial até à contemporaneidade. O orador, Augusto Nascimento, docente e investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, apresentou um conjunto de argumentos sustentados em investigação própria e em bibliografia especializada.

Segundo o orador, a comparação direta entre os dois arquipélagos, frequente no imediato pós-independência, carece de ajustamentos analíticos. “A comparação pertinente parece-me não ser aquela que se faz entre São Tomé e Cabo Verde, mas a comparação que se pode fazer de São Tomé e Príncipe com a Madeira e de Cabo Verde com os Açores”, afirmou, apontando a configuração territorial e a distribuição de poder intra-arquipélago como fatores com implicações políticas relevantes, nomeadamente na alternância de governação.

No plano histórico, Nascimento sublinhou que, apesar de experiências coloniais comuns até ao século XVI, as economias divergiram de forma estrutural a partir do século XIX. Em São Tomé e Príncipe, “os colonos chegam e implementam um modelo de grande propriedade”, orientado para culturas de exportação como o cacau e o café, com recurso prolongado a trabalho forçado. Em Cabo Verde, sem atratividade para colonização agrícola de grande escala, manteve-se a valorização de quadros locais na administração e o papel de São Vicente como entreposto marítimo. “As circunstâncias da vida em Cabo Verde permitiram o crescimento de uma elite cultural e política; em São Tomé, a configuração económica do colonialismo impediu esse crescimento”, sintetizou.

O orador destacou ainda dinâmicas sociais distintas: emigração cabo-verdiana e circulação transatlântica de pessoas e ideias, por um lado; e, por outro, a importação de mão de obra africana para as roças santomenses, com menor enraizamento de uma esfera pública local. No século XX, a produção intelectual e jornalística em Cabo Verde - “A Voz de Cabo Verde” e “O Futuro de Cabo Verde” - contrastou com a fragilidade de periódicos santomenses no território, pese embora a existência de elites escolarizadas em Lisboa.

Após 1975, as expectativas de convergência associadas a projetos políticos de matriz socialista foram seguidas por resultados distintos. Para Cabo Verde, a prioridade foi “prevenir as fomes”, reorientando políticas públicas; em São Tomé e Príncipe, a nacionalização de ativos coloniais não se traduziu em desenvolvimento sustentado. A transição para o pluralismo nos anos noventa, em ambos os países, trouxe alternância e liberdades, mas também “dissonâncias” no funcionamento institucional.

Nesta dimensão, Nascimento enfatizou a centralidade do Estado de direito. “Instituições fortes são absolutamente fundamentais”, afirmou, argumentando que a robustez institucional cabo-verdiana tem sustentado políticas económicas e confiança pública, ao passo que, segundo exemplificou, São Tomé e Príncipe enfrenta fragilidades na justiça que condicionam segurança jurídica e investimento. Para o autor, esta é “a grande diferença” que hoje separa os percursos.

 

 

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