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A Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes (FCSHA) da Universidade de Cabo Verde realizou, esta quinta-feira, 23 de outubro de 2025, uma mesa-redonda intitulada «Música cabo-verdiana: percurso e desafios de sua evolução», no Edifício 8 (Sala 101), Campus do Palmarejo Grande, em formato híbrido. O encontro reuniu investigadores e agentes culturais para analisar marcos históricos, tendências e caminhos de investigação.

No enquadramento institucional, a Presidente da FCSHA, Fernandina Fernandes, sublinhou a prioridade dada às artes: “No próprio nome da faculdade temos as artes e estamos no esforço de promover e alavancar as artes na faculdade. Começar com uma mesa-redonda e atividades de extensão nesta área é uma boa aposta.”

A comunicação de Gláucia Nogueira problematizou o termo “evolução” aplicado à cultura, propondo abordagens como “trajetória” ou “transformação”. Destacou a consolidação recente de géneros outrora marginalizados: “O funaná e o batuco, antes circunscritos a contextos específicos, afirmam-se hoje no espaço público, tal como a morna, reconhecida como Património Mundial.” A investigadora salientou ainda o crescimento dos estudos académicos sobre música cabo-verdiana nas últimas duas décadas, apelando a uma leitura crítica das fontes históricas.

Por seu turno, Carmen Barros apresentou o trabalho “O sentido das influências na música cabo-verdiana”, propondo as influências culturais e musicais como categoria analítica para compreender processos de legitimação e desqualificação. Recordou que, em determinados períodos, manifestações como o funaná e o batuque foram classificadas como “não música”, contrastando com a visibilidade pública da morna e da coladeira. “A classificação dos géneros envolve relações de poder e convenções de legitimação que se transformam historicamente”, sintetizou.

César Monteiro partilhou resultados preliminares de uma investigação de campo sobre a relação da “nova geração” de músicos (aproximadamente entre os dezoito e os cinquenta anos) com a música tradicional. Propôs uma tipologia em três grupos: i) dedicados inteiramente à tradição; ii) praticantes de tradição com inovação; iii) artistas de registos comerciais que incorporam elementos tradicionais. “A minha tese é que os jovens não viraram costas à música tradicional; a relação é diferenciada, mas persiste respeito e diálogo com as matrizes”, afirmou.

A iniciativa integra a programação de sensibilização artística que a FCSHA pretende dinamizar ao longo do ano letivo de 2025/2026, no quadro do processo de institucionalização do ensino, investigação e extensão nas artes na Uni-CV. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento do conhecimento, da interpretação e da sensibilidade estética na sociedade cabo-verdiana, mobilizando a comunidade académica e o público em geral.

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