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O docente e investigador da Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), Saidu Bangura, assina o capítulo “Deneocoloniality and African Languages in Education: Cabo Verde a case study” no livro Socioeconomics, Philosophy, and Deneocoloniality: Exploring the Economic Impact of Colonialism and Neocolonialism Across Africa and Its Diaspora, editado por Abdul Karim Bangura e publicado pela prestigiada editora Palgrave Macmillan. A contribuição analisa a relação entre política linguística e educação no contexto africano pós-independência, tomando Cabo Verde como estudo de caso e defendendo uma abordagem mais dialogante e inclusiva no sistema educativo.

Na introdução, o autor enquadra a situação linguística no continente, destacando países que adotaram línguas africanas como cooficiais, e apresenta o estatuto do crioulo cabo-verdiano (kriolu) e do português no ecossistema linguístico nacional, à luz dos direitos constitucionais à educação e à cultura. Bangura sublinha a incongruência histórica entre a introdução do inglês e do francês no 5.º ano e a ausência do kriolu no ensino básico obrigatório, tema que articula com os conceitos de descolonização linguística e de “desneocolonização” trabalhados na obra.

O capítulo estrutura-se em torno de três eixos analíticos. No primeiro, “Língua e Educação”, discute a relação entre língua de escolarização, qualidade das aprendizagens e globalização, convocando o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (educação de qualidade) como referência para políticas baseadas em evidência. No segundo, “Língua e Identidade Cultural”, explora o vínculo entre idioma e pertença, realçando a natureza dinâmica da identidade e os desafios de planeamento linguístico em pequenos Estados insulares, com referência a documentos jurídicos e orientações de política educativa em Cabo Verde. No terceiro, “Inclusão vs. Exclusão Linguística”, argumenta que o uso de línguas africanas na escola é um direito humano e linguístico e revê experiências de programas bilingues em Cabo Verde e na diáspora cabo-verdiana, apontando benefícios do ensino na língua materna.

Entre as recomendações, Bangura propõe um debate nacional sobre a questão linguística; a adoção do kriolu como co-língua de ensino, em paralelo com o português, nos primeiros dois anos de escolaridade; a formação de professores e a produção de materiais didáticos em kriolu; e a criação de um Instituto da Língua Cabo-Verdiana. Defende, ainda, a implementação gradual de um modelo bilingue no básico e no secundário, em linha com práticas já testadas por comunidades cabo-verdianas no estrangeiro.

A publicação soma-se a um percurso de investigação continuado sobre língua e educação. Em 2010, Bangura coassinou, com Marlyse Baptista e Inês Brito, o capítulo “Cape Verdean in Education: A linguistic and human right” na obra Creoles in Education: An appraisal of current programs and projects (John Benjamins). Em julho de 2025, apresentou na Universidade de Évora a comunicação “Cabo Verde at Fifty: Between Linguistic in-Dependence and Political Independence. Quo Vadis?”, cuja publicação está prevista.

Saidu Bangura é Professor Auxiliar e vice-presidente da Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes da Uni-CV. Licenciado em Inglês e Linguística pela Universidade da Serra Leoa e doutorado em Tradução, Comunicação e Cultura, com especialização em Linguística Inglesa, pela Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, tem trabalho em sociolinguística, estudos literários pós-coloniais e línguas africanas, incluindo crioulos. Desempenha, igualmente, funções de investigador e examinador externo no programa de doutoramento em Estudos Linguísticos e Literários daquela universidade espanhola.

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